-cortei uma série de frases com palavrões desmesurados, o texto ficou atabalhoada mas não carente [de sentido]
Fim-de-semana grande e os turistas de mapa sempre apontado à sagrada família, a ocupar os últimos lugares vagos na esplanada, a especulação da tabela de preços do café, do supermercado, do aluguer. Cartão de residente já! Das duas uma, ou me dás 20% de desconto por te apresentar o cartão, ou então reduzes-me nos impostos por eu viver em bairro agitação turística (08001 a 08030). Vives aí porque escolheste!!? Vai-te foder, é o que te respondo. Estou farto deste casting permanente de vizinhos. Quero reconhecer alguém, quero que alguém me conheça. Quero que a miuda da padaria não me faça a saudação standard. A cidade está moldada a este tratamento ausente, em que todos somos iguais! Obrigado, mas não obrigado. Obrigado Richard Branson, Ryans e Vuelings. Depois como se não bastasse o imenso exército de ócio tem que estar em pleno rigor e respeito pela cidade, à uma da manhã retira-se a esplanada, às 3 fecha o bar. Não ouses atender o telefone cá fora de copo na mão, a multa será tão dura para ti como para eles. Depois 3 passos e és abordado pelo vendedor ambulante de cervejas, no bar perigo iminente da multa, na rua a estranha permissividade à transgressão. E o policia na sua scooter recolhe mais 6 latas de estrela debaixo do banco da mota, e vira costas ao vendedor, sem diálogo, sem apresentação de documentos, sem carga, sem registo. Menos mal, menos bem.
O sol está forte, e é dia da mãe. Peço desculpa por ter saltado o dia 25 e dia 1 sem dizer água-vai.
Senti-vos tristes saíndo do vosso jantar de 25 de abril.
Vi os manifestantes do 1º de maio, perfeitamente alinhados descendo a rua exigindo os 1200 euros de salário mínimo.
No outro dia um separador televisivo com 2 segundos trouxe-me mais 2 de felicidade, um pneu de carro girava e lia-se em círculo:
comprar um carro -> para ir para o trabalho, trabalhas para comprar um carro ->
por ser dia da mãe uma lasca do FMI de José Mário Branco:
"Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar..."
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