Thursday, June 12, 2008

Alguém acende um bic

camionistas parados de costas voltadas aos sindicatos, sindicatos reunidos com governos que se debruçam à pressa sobre temáticas de crise, mulheres sozinhas na cama à espera de maridos bloqueados nos piquetes, directores apaziguando clientes e amenizando indeminizacoes, a validade que se expira, o trajecto que ja nao tem sentido. A greve francesa de comboios chegou níveis que nao se supunha, o descontetamento das periferias tambem.

Num programa de tv há uns dias abordava-se (da perspectiva televisiva: sensacionalista e particular) as desigualdades sociais, lá estava a senhora que debicava no contentor do lixo, o vendedor de automoveis com vendas a zero, e o de carros de luxo que sentia algo da crise e inseguranca mas pouco. Nada novo. Surge então em cena um comprador de um lamborghini no stand. Director de uma empresa de telecomunicações que diz: "fiz uma operação económica muito vantajosa e cumpro este sonho de criança, comprar um destes carros de 270 mil euros".

Assim gira o mundo sem que nos afecte demasiado ou nos preocupe. Vamos ao cinema e dizem-nos "não compres DVDs pirata que é roubar, não o farias num supermercado" e efectivamente engolimos a mensagem do velhos valores do bem e do mal. Mesmo que mentalmente depois saibamos (cada um à sua maneira) ignorar ou convercer-nos que nem tudo é como nos contam. O que o mundo não adverte é de que lado está (nesses conceitos cada vez mais ambiguos de bem e mal) quem 'no bolso' traz 270 mil euros para comprar um brinquedo futil - expoente maximo das desigualdades sociais?

Do pouco que sei, as variaveis economicas das empresas acentam nos pilares: trabalhadores, tecnologia, oportunidades de negocio, concorrencia e mercado. E quando se enriquece muito [rápido] ou se andou a vender latão por ouro, ou, (e por conseguinte) não se remunerou convenientemente os trabalhadores. Só a prestacao de serviços altamente inflacionados pode disparar os lucros. O Lamborghini é na maioria das vezes a soma dos Opeis Astra que nunca conseguiram comprar os trabalhadores (ficando-se pelo Corsa Clio e casa por pagar durante 30 anos).
A frase do Eto'o é representativa: não ganhamos milhoes por nenhuma razão senão porque damos milhoes a ganhar a muitos outros! Desde esta perspectiva futebolistas passam a um plano sem duvida menos maligno que os 'directores'. (é conhecida a extensa e extravagante colecção de carros de luxo de Etoo).

Os pilares da sociedade capitalista acompanhada do destrunfar dos valores éticos e da alienação dos dias que correm fazem-nos ser isco e anzol de toda esta cadeia - atados a uma cana de pesca fora de água que nem sabemos qual é e que alimentamos milimetro por milimetro ao envio do sms, ao ligar a ADSL. Essa alienação ou desconhecimento são camuflados pelo progresso tecnológico que nos encandeia e temperado com o cariz aparentemente gratuito da internet. Essa mistura de valores desarticulados faz-nos muitas vezes esquecer ou perdoar quem está a lucrar (e quem se afunda) de forma desmedida com tudo isto! Estamos em 1900(?) e o Eixample terraplanado pelo plano Cerdá irá assegurar riqueza às familias construtoras dos imóveis por pelo menos 5 gerações. Se internet e telefone partilham a mesma tecnologia porquê o sms se paga e o mail não? O mesmo com as taxas de utilizacao de operacoes bancárias: como se individualmente uma equipa de operadores informáticos vigiasse sistemas e fosse ajustando proporcionalmente à utilização do serviço. Estranhas prestações que nos são exigidas baseadas pura e simplesmente na nossa ignorancia e incapacidade de contestação.

Por entre trevas e mortos vivos
É chinês o facho que os alumia
Alguém acende um bic
Devaneiam-se incríveis planos
Num retorno extemporâneo aos verdes anos
Trincando velhas pizzas ressequidas
Aos polícias e aos ladrões jogamos
Alguém se afunda a pique
Alguém me faz um bico
Alguém acende um bic.
Alguém se afunda a pique
Alguém se balança
E há mesmo alguém que dança ...
Ai que eu quero vomitar!
Velocidade escaldante [Mão Morta]

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