Tuesday, March 13, 2007

Primavera turbo

E assim se repetiu vários anos por esta altura.
O despedir-me da minha avó, que censurava a excursao familiar com medo que aparecessemos no telejornal.
O tacho embrulhado num jornal atado com guita, que se cortava e destapava a meio da viagem.
O meu pai que escolhia uma roupa que era qualquer coisa entre hippie e condutor de pesados.
O mini que parecia ficar mais nervoso que o normal, na forma como se fazia às curvas e como nos empurrava as costas na 3a velocidade.
GNR espalhados pelos cruzamentos, outros afunilando filas de carros para estacionamentos improvisados de forma desordeira e permissiva.
O cordao humano a subir a serra da Lousa, a encosta riscada na vertical por pessoas em esforço ajudando-se mutuamente. Partes havia que tinham de ser de maos nos chao e às vezes com outro a empurrar.
A escolha de um lugar à sombra e estrategicamente elevado sobre uma curva.
O calao frequente, o incomum à vontade entre desconhecidos, garrafoes de vinho poisados na sombra, as mantas no chao, e as bocas às miudas que disfarçavam num esforço em vao fingir que nao era com elas.
O sabichao com uma tabela nas maos a dar palpites sobre pilotos e veiculos.
O cheiro da mata e as acácias em flor.
A sombra do helicoptero a pairar sobre a ramagem das arvores.
O silencio do nervoso colectivo que antecedia a prova.
Policias de peito feito a fazer cumprir as regras de seguranca nas curvas perigosas.
Os espinhos que se enfiavam nos dedos e que à noite eram removidos com uma agulha.
As arvores unidas por fita plastica vermelha e branca, que se ia despedaçando aos poucos.
A piada fácil no aplauso ao zero-zero.




Rally Portugal Pictures 1984/85/86/87


O estrondo dos motores. O rebolar de pedras pesadissimas em movimento já com os veiculos fora do horizonte.
Os sulcos de estrada lavrada no final da tarde.
Os carros avariados na margem com pneus grossos, esfarrapados e lisos.
Os gritos em delírio dos espectadores que saltavam para a estrada.

O dia seguinte, na escola, contando aos colegas mas sem grande êxito para lhes transmitir a emocao.

E assim foi três ou 4 vezes em meados dos 80s, teria eu 8 ou 9 anos. Depois por qualquer razao deixámos de ir.

Voltei anos mais tarde com amigos de mota, em finais de 90s, o espalhafato era o mesmo mas como em tudo, a idade adestra-nos as emocoes.

Depois de anos de jejum o cenário far-se-á mais a sul, menos acácias mais amendoeiras, entre 30 de março e 1 de abril a festa do rally do portugal está aí.

Nao estaria mal dar lá um salto e confirmar se ainda por lá andam camisas de flanela e garrafoes.

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