Thursday, June 21, 2007

(Pré)-SÓNAR 07

Festival por excelencia da música electrónica e da arte multimédia experimental, o SÓNAR é um dos acontecimentos musicais cada ano que se repete (já lá vao 13) e um marco incontornável de Barcelona. Para muitos é um festival moderno. Para outros é um pouco esquisito, apenas para conhecedores das novas tendências musicais. Para a grande maioria, o SÓNAR é a maior festa que se celebra em Barcelona em todo o ano. Este festival consegue movimentar ainda mais esta cidade, já por si recheada q.b. de eventos culturais; para além da programaçao estrita do festival, existe toda uma série de eventos paralelos (off-SÓNAR), que vao desde festas nas praias e nos diversos clubes da cidade, até ao anti-SÓNAR (realizado a algumas centenas de metros onde se realiza a parte nocturna do SÓNAR oficial). Difícil mesmo, só a escolha!
A ediçao deste ano apresenta a celebraçao do "acid-house" (datado do já distante ano de 1988), aqui reactualizado no "hype" da "new rave", como grande pano musical de fundo. Com tudo o que de discutível este último conceito tenha (e tem de facto), alguns dos nomes mais fortes (e confirmaçoes esperadas) fazem parte desta "nova" fornada de projectos. O SÓNAR, como grande devedor desse período de grande explosao criativa a nível musical no campo da electrónica, rendeu uma irónica homenagem icónica ao símbolo que melhor representou essa cultura: o "smiley".
Os grandes cabeças de cartaz este ano sao dois dos símbolos maiores da história musical das últimas décadas: os norte-americanos Beastie Boys e Devo.
Com quase 30 anos de carreira que falam por si só, o trio composto por Adrock, Mike D e MCA fazem da constante transgressao dos limites do hip-hop e do rap uma constante na sua obra (sao provavelmente a melhor banda que consegue agregar públicos tao distintos como os do rap e do punk, por exemplo).
Atente-se no seu último álbum "The Mix-Up" (em apresentaçao na primeira noite do festival), completamente instrumental e com alguns traços latinos, sem vocalizaçoes e sem os habituais "samples" e "scratches" marca da casa; na segunda noite, o concerto deverá ser recheado de êxitos (do calibre de "Sabotage" e "Intergalactic"), num registo "best of".
Quanto aos Devo, quarteto que já há 17 anos que nao actua na Europa, sao uma das referências maiores e uma das bandas que melhor faz a ponte entre a electrónica de recorte mais pop e o punk mais digital, ou seja, as raízes de muita "coisa" que por aí abunda como se de uma invençao se tratasse. Sem dúvida para aproveitar a presença única dos criadores dessa obra maior da música, chamada "Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!", do já longínquo ano da graça de 1978.
Os Devo foram punks antes do punk existir. Sao o melhor grupo na palhaçada da história da música, mas uma palhaçada séria! Segundo o baixista Jerry Casale, "Sao uma piada séria, o que traduz o que a vida é na realidade". O seu conceito de "de-evoluçao" é o que se pode assistir na actualidade, ao contrário da expectável evoluçao. Este absoluto pessimismo quase nihilista é, no entanto, contrariado de certa forma com algumas das músicas mais irónicas e cheias de humor que os Devo legaram ao mundo musical, complementadas com alguns dos melhores vídeos jamais feitos (no que concerne ao humor latente, perceba-se). As músicas, nas actuaçoes dos Devo sao uma das partes do todo, constituído por uma "mise-en-scène" claramente estudada, imagens surreais como pano de fundo no palco, coreografias decididamente pouco convencionais e uma empatia clara com o público.
Tidos como uma das principais referências para projectos actuais como Booji Boy High (grupo paralelo aos Hot Chip), Foals, Shy Child, Hot Club de Paris e Polysics (estes últimos sendo quase uma banda-tributo, tal a semelhança sonora), os Devo sao "aquela" banda que muita gente gostaria de ter. Pioneiros da pop electrónica, os Devo vêm apresentar o seu som de pop sincopada, o funk de plástico, as suas vestes "radioactivas" e os seus chapéus em forma de vasos a um público sedento da sua presença (nao actuam na Europa desde 1990).
Outros nomes a ter em linha de escuta:
- Junior Boys
Senhores canadianos responsáveis por alguma da re-actualizaçao da pop electrónica, herdeiros directos da melhor tradiçao neo-romântica dos anos 80, com a grande diferença de tentarem encontrar novos ritmos de dança, com ecos na música "disco" cósmica. Junior Boys podem ser, nos dias que correm, os novos clássicos da cançao futurista.
- Narod Niki
Talvez um dos projectos mais misteriosos e radicais do SÓNAR 07, este colectivo de produtores da área do techno cuja identidade varia de actuaçao para actuaçao (sendo comandados por Ricardo Villalobos e Richie Hawtin). Improvisaçoes puras em directo assentes em estruturas de dança sem guiao determinado. Pode suceder qualquer coisa, incluindo dançar!
- James Holden
Dj de primeira água em registo de música para sonhar acordado, o patrao da Border Community sabe do assunto no que toca a temas sonoros na área da electrónica mais melódica.
- Piana
Vinda do Japao, traz consigo uma pop ingénua e extremamente doce. Para quem gostar da Björk mais infantil e de qualquer coisa dos múm.
- Night Of The Brain
Banda de Cristian Vogel (DJ vulgarmente conhecido por territórios do techno), onde apresenta um rock cheio de matrizes electrónicas.
- FM3
Projecto do músico francês Christian Virant, residente na China e inventor de um dos artigos sonoros do ano (a Buddha Machine, espécie de transístor que emite sons ambientais e que já se tornou moda para muitos músicos).
- (Showcase da editora Accidental)
Sem Matthew Herbert (presença habitual em ediçoes anteriores), este selo apresenta projectos centrados na fusao da pop e da electrónica, como The Invisible e Mica & The Cluster.
- Digitalism
Cheios de energia reflectida nas fortes bases do rock e da electrónica, estes alemaes fazem gala em recuperar os anos de glória da cena "acid" de Manchester.
- Sunn O)))
Provavelmente o grupo mais brutal (que provoca mais medo, entenda-se) de todo o cartaz, com excepçao talvez dos compatriotas Wolf Eyes. Fazedores de alguma da música mais estranha jamais feita (rock atmosférico com contornos satânicos??!!), com ritmos em regime de coma e atmosferas negras com guitarras agonizantes, densas demais para ouvidos (e corpos) sensíveis. Experiência única!
- Nettle
Sao o grupo em registo "ao vivo" do produtor DJ/Rupture (grande responsável pela pesquisa de alguns dos sons mais raros da electrónica) e de alguns músicos com residência em Barcelona. Breakcore em colisao com ritmos culturais do mundo globalizado.
-Skream
Um dos últimos "porta-estandartes" do movimento dubstep britânico, Ollie Jones (com apenas 21 anos) é já um dos valores seguros do género que tende a crescer até limites desconhecidos.
- Romantica
Talvez uma das presenças mais estranhas a deste grupo feminino japonês, que apresenta uma visao muito particular da pop mais dançável. Para além disto, há quem diga que sao praticantes de strip-tease profissionais e que fazem gala disso nas suas performances... Publicidade enganosa? A ver...
- Various Production
Dúo misterioso inglês, mistura folk com dubstep, o mesmo é dizer, ritmos lentos e hipnóticos de dub e trip-hop de uns Massive Attack, com cançoes de fogueira com lua cheia de uma Joanna Newsom (por exemplo).
- Matthew Dear's Big Hands
Novo projecto do maestro do techno Matthew Dear, que apresenta uma sonoridade próxima de uns Talking Heads mais dançáveis.
- Andy Stott
Uma das mais recentes descobertas em terras britânicas chama-se Andy Stott, praticante de um techno de frequências graves, sons delicados (por vezes) e algumas fricçoes com a música clássica, dao o mote para a actuaçao deste senhor de Manchester.
- Simian Mobile Disco
Este é o projecto de James Ellis e James Anthony, anteriormente chamado Simian. Sao fazedores do tal "rock raver", claramente indicado para este contexto. Em regime DJ, a dupla inglesa terá no seu álbum de apresentaçao "Attack Decay Sustain Release" um bom manancial de escolhas.
- Justice
É o projecto francês do momento (há já algum tempo, mais precisamente), constituído por Gaspard Augé e Xavier de Rosnay, considerados como os legítimos sucessores (ou seguidores?) dos conterrâneos Daft Punk. Requisitados por tudo quanto é projecto da área rock mais alternativa para ver as suas músicas transmutadas pelas suas maos (oiça-se "Never Be Alone" dos Simian que, depois de ser "tocada" por esta dupla foi o grande "hit" das pistas durante o último ano). Sao os grandes pontas de lança da editora Ed Banger, que alberga ainda outras jóias que irao apresentar as propostas mais hedonistas de todo o festival, seguramente.
- Dizzee Rascal
Este britânico irá apresentar o seu recente "Maths And English", álbum que vem cimentar o seu papel no som urbano mais eclético que tem chegado do outro lado do Canal da Mancha.
- Radio Slave
Projecto inglês de Matt Edwards que, a título de remisturas, já trabalhou com Kylie Minogue (que é para nao serem sempre os mesmos nomes da electrónica "snob" e "elitista" a figurarem por aqui!).
- Kode 9 & The Spaceape
Um dos projectos mais respeitados na área do dubstep, onde as raízes dos "soundsystems" jamaicanos se juntam despreocupadamente aos sons britânicos do 2-step. O resultado costuma ser algo explosivo.
- Altern 8
Pioneiros da "cena rave" inglesa mais contundente, Mark Archer e Chris Peat nao costumam passar despercebidos onde actuam.
- New Young Pony Club
Sao mais um projecto britânico a fazer da "fórmula mágica" (electrónica com guitarras) o seu "modus operandi". Costuma resultar em doses destiladas de suor nas pistas por onde passam.
Em termos de palcos, destacam-se os seguintes:
Dia:
- Hall (sem limite de décibeis, música electrónica de risco, entre o lúdico e o complicado; para ouvidos exigentes);
- Complex (só para os mais ousados, apresenta música feita à base de ruído puro, experimental, extrema, a que procura a estética mais complicada; para visitantes inquietos);
- Dôme (apresenta alguma da oferta mais arriscada em termos de aceitaçao; em plena praça do MACBA, o som propaga-se a todo o Raval sem fronteiras);
- Village (o espaço por excelência durante o dia, com o seu "relvado artificial" apresenta um ambiente de festa, onde a electrónica mais agradável para os ouvidos é servida em doses abundantes).
Noite:
- Club (é o cenário principal do SÓNAR e o mais grande também; com grande qualidade de som, este espaço alberga os principais nomes do cartaz);
- Park (centrado em sons mais negros e experimentaçoes à volta da pop electrónica);
- Pub (ao ar livre, este espaço é o ideal para as noites quentes que se esperam durante o SÓNAR);
- Lab (com programaçao mais experimental, é o espaço mais "especializado do festival à noite).

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