Sunday, June 24, 2007

(Pós)- SÓNAR 07

Após 3 dias e 2 noites frenéticas, mais de 80 bandas/DJ's/projectos de oferta musical/visual, um balanço (breve) se impoe de mais uma ediçao do SÓNAR 07. Breve balanço porque, convenhamos, o dom da ubiquidade (que muito me apraz) ainda nao é uma das características deste escriba; e, justiça seja feita, pelo menos mais de metade dos nomes em cartaz tiveram o meu contributo enquanto público. Adiante, que isto sao águas passadas, e o que aqui fica sao algumas notas soltas daquilo que mais me chamou a atençao (por várias razoes) e que mais destaque mereceu (positivo ou negativo).
Quinta (14)
- James Holden (DJ)
Batidas minimais em ritmo progressivo, com um "background" profundamente hipnótico. Em ritmo crescente, o público que enchia a zona do SónarVillage foi aderindo, também ele, em ritmo progressivo.
Som ideal (é sempre ideal) para um fim de tarde com calor humano (e nao só) a tocar os limites do exagerado (aspecto positivo).
- Dorian (Live)
Quatro elementos autóctones (em representaçao caseira), fazedores de pop electrónica pouco cativante, ou seja, com um grau de originalidade pouco credível para um evento deste género. Santos da casa que nao fizeram milagres...
- White (Live)
Dupla oriental (vindos de Pequim), apresentaram uma actuaçao com matrizes sonoras assentes numa pop experimental, por vezes algo psicadélica, com a parte feminina do dúo em destaque.
Público sentado a encher o EscenarioHall (a fazer lembrar, noutro contexto, o Festival Para Gente Sentada em Sta. Maria da Feira).
- FM3 feat. Blixa Bargeld (Live)
Trio experimental que conta com a voz (pontual) do senhor Blixa Bargeld dos alemaes Einstürzende Neubauten. Ambientes algo claustrofóbicos com sons a roçar o minimalismo conceptual, com laivos de algum "lo-fi" sónico. Experimentalismo sónico-minimal. Banda-sonora ideal para um filme negro/de terror.
- Burbuja (Live)
Projecto interessante q.b., algo estranho por sinal. Visualmente dieferentes (entenda-se por diferentes o facto de estarem disfarçados com máscaras alusivas a uma imagética algo surrealista). O som debitado através de programaçoes acompanhadas de uma guitarra faziam lembrar cenários algo oníricos. O "mundo" de Burbuja, assim definido pela "programadora" e vocalista da banda é algo complexo , mas que se vai assimilando bem.
Sexta (15)
- Sunn O))) (Live)
Espaço do EscenarioHall cheio. Ambiente denso, atmosfera lúgubre, sons escalofriantes. Experiência sonora diferente: muralhas constantes de ruído em transe (possível definiçao de "drone-metal"). Reverberaçoes transgressoras nao aconselháveis a ouvidos mais sensíveis. Toda uma experiência sensorial!
- Nicole Willis & The Soul Investigators (Live)
Senhora de uma grande voz soul. Ritmos negros em final de tarde com o público espalhado pelo "green" do CCCB. Piano a destilar notas da Motown, acompanhado por um quarteto de cordas eficaz.
- Beastie Boys (Live)
Basicamente o mesmo alinhamento do concerto apresentado dias antes em Portugal no festival Oeiras Alive, com a diferença de haver muito mais público na audiência. Talvez nao se justificassem (tal como no concerto luso) tantas músicas instrumentais do mais recente "The Mix-Up"... O resultado, esse, foi positivo atendendo à grande ânsia que o público tinha de ver uma das bandas que menos concertos dá fora dos E.U.A. Neste caso, foram dois (contando com a apresentaçao integral do último álbum instrumental na primeira noite do festival). Uma das bandas que a organizaçao há mais tempo queria trazer ao SÓNAR! Objectivo cumprido!
- Modeselektor DJ Team (DJ)
Techno minimal alemao (com alguns problemas técnicos à mistura). "Set" em tons progressivos (marca da dupla). Ironicamente actuaram após os Beastie Boys e a música "Sabotage" podia definir o que foi a prestaçao destes alemaes. Mereciam melhor.
Sábado (16)
- Devo (Live)
"Q - Are We Not Man? A - We Are Devo!". Tao simples quanto esta questao que dá título a uma das obras seminais da história da música! Estes senhores (com algum ar de reformados com casa em Miami) deram simplesmente o melhor concerto do SÓNAR 07. As palavras, nestas ocasioes, sao poucas para definir o que se passou em palco. Momentos altos (se é que houve outros momentos?!): "Whip It" (com a banda a justificar todos os pergaminhos que se lhe reconhecem); "(I Can't Get No) Satisfaction", essa grande versao melhor que o próprio original dos Rolling Stones (que dias depois encheriam outro espaço da cidade condal); "Freedom Of Choice" foi genial com uma entrega total da banda e o público a devolver toda a energia contagiante. O som esteve sempre irrepreensível, o que em muito ajudou a uma actuaçao para ficar na retina e nos ouvidos daqueles que a presenciaram. Voltem sempre!
- Mogwai (Live)
As paredes sonoras constituídas (por vezes) por um baixo e duas guitarras eléctricas continuam a nao deixar ninguém indiferente. Um autêntico monumento à instrumentalizaçao pura na sua melhor execuçao. Estes escoceses nao sabem dar um mau concerto!
- Matthew Dear's Big Hands (Live)
Um "live" em regime quase dub, toadas hipnótico-progressivas, a mostrar uma nova faceta deste DJ e produtor norte-americano. Aceitaçao razoável.
- Black Devil Disco Club (Live)
Uma actuaçao que foi mais uma sessao DJ assente em electrónica à base de programaçoes e teclados em tons progressivos e cheios de "groove". Uma prestaçao coesa, com potencial para mais, para mostrar todas as capacidades deste trio francês. Entre um Etienne de Crècy mais clássico e uns Digitalism mais conservadores (no bom sentido da palavra).
- Milky Globe (DJ)
A reter uma das "entradas" do festival com uma revisao actual do clássico da banda-sonora de "2001 - Odisseia no Espaço". Magistral!
- DJ Nu-Mark (DJ)
Liçao autêntica de como apresentar os verdadeiros clássicos às massas. Actuaçao em honra do velho "old-skool"! Irrepreensível tecnicamente, o senhor dos pratos que já acompanhou essa grande instituiçao do hip-hop, de seu nome Jurassic Five. Final apoteótico a pedir mais tempo de actuaçao.
- Round Table Nights (DJ)
Trio suíço de "mash-ups". Tiveram a tarefa difícil a de fechar o palco do SónarPark após a prestaçao avassaladora e brilhante de DJ Nu-Mark. Conseguiram trazer (ainda) mais frescura (numa altura em que já se vislumbravam os primeiros raios do sol) com clássicos directos para a pista de dança ocupada pelos mais resistentes. Destaque para os temas da escola "favela funk" (talvez uma das grandes pechas em termos de programaçao deste ano), a fazerem vibrar por completo os presentes. Uma boa descoberta em final de SÓNAR 07!
Balanço final: mitigado (actuaçoes boas encadeadas com outras de puro tédio e desinteresse). Um cartaz talvez dos mais fracos dos últimos anos (apesar de tudo, um cartaz que tem Beastie Boys e Devo nunca é de menosprezar, mas o todo foi um pouco desequilibrado). Para o ano há mais!

2 comments:

passarola said...

pois tive mesmo pena de não conseguir tirar uns dias durante o Sónar... :( agora que vou para essas bandas diz que não há assim nada de especial para ver... enfim, logo descubro qd andar por aí perdida :)

quanto aos beastie boys, estou de acordo contigo, aqui no Alive, foi um grande concerto, fecharam em grande o festival... mas sim, a parte instrumental looonga de mais......

Anonymous said...

ferdinand: deverias ser recompensado por estas resenhas.
g