Sunday, July 22, 2007

SUMMERCASE 07 - Impressoes Digitais (II)

Sábado, 14

- The Hours
Os The Hours, novo projecto de Anthony Genn (antigo membro das Elastica e Pulp) e Martin Slattery (ex-Black Grape), sao um quinteto bem oleado, cuja sonoridade (nao sendo de todo muito original) anda à volta do rock mais melódico e algo épico (grandemente devido ao ambiente imprimido por um piano à Manic Street Preachers). O vocalista faz uso de um timbre de voz deveras interessante, ao mesmo tempo que utiliza a guitarra para provocar um ritmo quase viciante em cada música.
Sao um grupo apadrinhado por esse grande "dandy" inglês, Jarvis Cocker de seu nome (que viria a pisar o mesmo palco horas mais tarde), o que é sinónimo de alguma qualidade.
Resultado: podem nao ser já um fenómeno, mas têm potencialidades para tal.

- Perry Blake
Em pose bastante intimista, este irlandês deu um concerto para os que se dignaram rumar ao palco/terminal S (escassas centenas àquela hora da tarde), acompanhado de dois elementos (um ao piano e outro à guitarra).
Com o tom que lhe é característico, o "crooner" apresentou um alinhamento que continha algumas das melhores cançoes do seu reportório (incluindo do último longa-duraçao "The Canyon Songs").
"Genevieve" (pertencente ao excelente "Broken Statues" de 2000) foi um dos momentos mais intensos pela forte sensaçao de quase transcendência provocada pela voz de Blake.
Claramente vocacionado para espaços fechados e mais acolhedores, uma actuaçao de Perry Blake é sempre motivo para ser vista, pela qualidade das cançoes (com algumas das letras mais emotivas escritas por alguém, cuja traduçao para português já existe por aí numa livraria bem recomendada).
Um concerto para ver e sentir mais vezes.

- Badly Drawn Boy
Concerto dividido em duas partes: a primeira acompanhado por uma banda (composta por 4 elementos); a segunda, essencialmente a solo (à guitarra ou ao piano). Esta segunda parte foi claramente mais interessante, nao só pelo conteúdo/alinhamento apresentado (com o clássico "The Shining" incluído no magnífico álbum de 2000 "The Hour Of The Bewilderbeast", brilhante e cheia de sensibilidade acústica), mas também pela simplicidade e autenticidade que as cançoes ganham (como se estivessem em estado puro, qual diamante por lapidar). No geral, foi algo morno, mas a voz de Damon Gough é uma mais-valia que nem todos podem almejar.
Entre a folk mais intimista e acústica (lembrando algumas fases de Bruce Springsteen) e a pop mais convencional se delineou a sua actuaçao, cujo ponto alto culminou com "Silent Shout" (incluída na banda-sonora de "About A Boy") a encerrar a sua actuaçao.
Com um alinhamento e uma versao das músicas algo mais efusivos e talvez tivesse sido um dos melhores concertos de todo o festival. Assim, foi só bom.

- James
Regresso destes senhores de Manchester às lides dos palcos. Necessidade financeira a falar mais alto? Para os milhares de fans que se concentravam à sua frente, decerto que isso era o menos importante. Mais ainda quando o alinhamento foi (quase) todo ele em regime de "best of". Talvez os concertos devessem ser todos assim. Para ouvir o resto das cançoes que muitas vezes só servem para "encher" no alinhamento, existem os CD's ou discos em casa!
Tim Booth e restantes companheiros ainda mostram estar em boa forma (ao contrário de outras bandas do mesmo período musical) e desfilaram temas como "Tomorrow", "Born Of Frustration", "Sit Down" (o seu melhor tema, que lhes abriu as portas para as "massas", com essa letra anti-solidao que canta: "Those who feel the breath of sadness, Sit down next to me, Those who find they're touched by madness, Sit down next to me, Those who find themselves ridiculous, Sit down next to me, In love, in fear, in hate, in tears..."). Todo um hino pop! Para os mais nostálgicos e fans incondicionais. Pelo meio houve dois singles novos ("Who Are You" e "Chameleon") cuja relevância foi quase nula.
O melhor momento chegaria no final (já no "encore") com "Come Home" transfigurada num som mais que "Madchesteriano", a provocar alguma nostalgia desses tempos idos.

- My Brightest Diamond
O diamante mais brilhante talvez nao seja, mas que pode (e deve) ser muito bem polido, lá isso é verdade.
Projecto de Shara Worden (que fez parte das vozes no álbum "Illinois" de Sufjan Stevens), apresentado em versao trio, a fazer lembrar algumas actuaçoes de PJ Harvey no seu início de carreira. Alguma rudeza nas guitarras, a voz algo dolente e sempre no limite, numa atmosfera de viagem sem destino marcado. A presença (quase fantasmagórica) de Edith Piaff também andou por aqui; mas Patti Smith e Laurie Anderson também ajudaram.
As músicas mais calmas e algo introspectivas tiveram um "feedback" bastante positivo por parte do público, que recebeu com agrado e atençao a folk da artista norte-americana.
Tem vários caminhos por onde seguir. Todos eles muito recomendáveis.

- Soulsavers feat. Mark Lanegan
Uma das parcerias mais interessantes da actualidade, a dos ingleses Soulsavers com uma das grandes vozes do movimento grunge, Mark Lanegan (vocalista dos extintos Screaming Trees). A banda de Ian Glover e Richard Machin têm apenas dois discos lançados (ouça-se o fantástico "It's Not How Far You Fall, It's The Way You Land", álbum que se seguiu ao primeiro "Tough Guys Don't Dance" de 2003), mas sao dos projectos mais interessantes e consistentes para se escutar e ver em palco.
Se juntarmos à base instrumental mais que coesa e que condensa os melhores ingredientes do rock alternativo (Yo La Tengo, Mudhoney), com a voz grandiloquente de Mark Lanegan, o resultado obtido é algo parecido a um "crossover" entre o blues urbano mais escuro e a electrónica mais dramática. Esta mistura entre tecnologia e tradiçao é apresentada em concerto com os elementos em palco discretos mas sóbrios, onde souberam dar uma liçao de como tocar boa música e encher o ego dos ouvintes.
As guitarras sao densas, as vozes "soul" negras (a secçao de coros funciona como um bom contra-ponto à voz, por vezes pantanosa e algo crepuscular, do senhor Lanegan), os ambientes criados sao planantes (a roçar as nossas cabeças e ouvidos).
A fechar a actuaçao, uma versao fantástica de "Some Velvet Morning" de Nancy Sinatra e Lee Hazlewood. Só recomendado para pecadores com amnésia. Do melhor que se ouviu neste dia.

- Dragonette
Mais um projecto oriundo do Canadá (com elementos ingleses pelo meio), um dos "viveiros" mais profícuos em questao de exportaçao de alguma da melhor música feita na actualidade, mas sem a categoria dos seus compatriotas (exs: !!! e The Hidden Cameras, também presentes neste festival).
Quarteto liderado por uma vocalista, Martina Sorbara (que diz ser adepta de praias naturistas), nao vao além de uma pop com laivos algo adolescentes, com reminiscências de Duran Duran, mas sem voz nem base instrumental para se aguentarem.
Pela segunda vez em Barcelona, mas sem convencerem.

- Jarvis Cocker
A voz para sempre ligada aos Pulp (ou será ao contrário?) apresentou-se em palco acompanhado de 5 músicos, que em muito contribuíram para "encher" o som das cançoes do "dandy" inglês cheio de estilo.
Presença habitual por estas paragens, nomeadamente na versao DJ, Jarvis Cocker é um ícone da comunidade "indie" e, como tal, o palco/terminal S estava completamente cheio para ouvir as pérolas sonoras (algumas do último longa-duraçao intitulado simplesmente "Jarvis") deste grande compositor.
Por vezes munido de uma guitarra acústica, é a voz que serve para cativar o público e Jarvis Cocker mantém um timbre vocal intacto (se compararmos com os inícios "Pulpianos"), o que em muito contribui para uma actuaçao completamente reconhecível para qualquer melómano.
Pena ter actuado à mesma hora do "mago" DJ Shadow. Sao assim estes festivais...

- DJ Shadow
Um autêntico "live", com verdadeira recreaçao das músicas inventadas por este génio da electrónica, baptizado com o nome de Josh Davis, mas musicalmente conhecido por DJ Shadow.
Fazedor de um hip-hop plurifacetado e algo erudito, DJ Shadow é muito mais que isto. Ele é um autêntico explorador que conseguiu levar o hip-hop a níveis inimagináveis por volta de 1990, através da sua prodigiosa técnica de collage e pelo seu interesse por ritmos mais abstractos (o último "The Outsider" continua essa busca incessante). Shadow consegue ir a vários estilos dentro da mesma música (do rock mais pesado ou melodioso, ao "scratch" mais corrosivo do rap).
Acompanhado (?!), nao por outros músicos (tal nao era necessário), mas por imagens de fundo reveladoras da intervençao social e política que DJ Shadow pretende transmitir cada vez mais com a sua obra musical.
Com um virtuosismo técnico só ao alcance de muito poucos, DJ Shadow desfruta de uma qualidade de som à prova de tudo (incluindo algum vento que se fazia sentir a essa hora), ao contrário do que sucedeu com a maioria das bandas presentes (e que talvez tenha sido um dos aspectos mais negativos a apontar durante o festival).
Tendo como pressuposto que o melhor álbum de electrónica foi feito por este senhor ("Endtroducing", datado de 1996), é fácil perceber a grandiosidade deste artista.
A mistura deste álbum com as músicas do sucessor "The Private Press" resultou maravilhosa. "Rabbit In Your Headlight", música do projecto conjunto com James Lavelle, UNKLE, apareceu aqui completamente transfigurada, com toques de drum & bass. Foi, de facto, muito positiva a passagem das músicas em nome próprio intercaladas ou misturadas com as do projecto UNKLE (cujo último álbum está já a rodar por aí, "War Stories" de seu nome).
"Organ Donor" foi autenticamente demolidora, com vários arranques até ao verdadeiro êxtase colectivo. Momento maior!
Até aqui, eleito como a actuaçao do dia. Mas ainda estavam para vir uns senhores de Manchester...

- The Twang
Nada de especial a apontar neste concerto deste grupo que parece sacado directamente de Manchester, ano 1989, mas que é, na realidade, da Birmingham dos dias de hoje, a nao ser que decorria ao mesmo tempo que os de The Jesus And Mary Chain e The Gossip. E está tudo dito! Com concorrência assim, nao há quem aguente.

- The Jesus And Mary Chain
Já nao foi mau terem-se apresentado ao público que, em êxtase quase total, esperava pela actuaçao destes escoceses há longos anos. Após o regresso aos cenários no festival californiano Coachella no passado dia 27 de Abril, a expectativa era claramente elevada para saber em que estado musical se encontrava uma das bandas seminais da história da música recente.
Jim Reid até parecia simpático (creio tê-lo visto esboçar um leve sorriso), o que nao significa que nao o seja; talvez seja a "fama" de pouco expansivo que assim o justifique.
Com um cenário em palco entre o negro e o vermelho, perfeito para a paleta sonora pintada por estes senhores de Glasgow, fulcrais para a cena musical "indie" com traços marcantes de "shoegazing". Valem pelo seu reportório único (imenso, nao tanto em quantidade, mas sim em qualidade). E isso é suficiente. Durante a sua turbulenta e algo irregular carreira, os Jesus gravaram peças essencias para o devir da música, como "Psychocandy" (1985), "Darklands" (1987), "Automatic" (1989) e "Honey's Dead" (1992). Nestes álbuns podemos encontrar um sem número de melodias sonâmbulas, distorsao que fere, picos de algum psicadelismo, ritmos programados com pulsaçao pujante, queimaduras de terceiro grau, sexo, religiao, vício e uma sensaçao de perigo que atraía e paralizava qualquer ouvinte. Estes discos serviram para marcar uma década e uma estética sonora durante os anos 80, impondo uma lei de desordem marcadamente "Reidiana".
Curiosidade para comprovar se repetiam o dueto (talvez único) com Scarlett Johansson (presente por estes dias em Barcelona para gravar o novo filme de W. Allen), em "Just Like Honey", tal como sucedera em Coachella.
E nesta altura, o dilema: ver o passado (essencial) da música (The Jesus And Mary Chain), ou o futuro (promissor) da mesma (The Gossip)?

- The Gossip
The Gossip sao um trio vindo do Arkansas (EUA), liderados pela vocalista Beth Ditto e que vieram redimensionar o punk feminista das The Slits e Le Tigre e sao um dos fenómenos do ano, graças sobretudo a esse grande som de "Standing In The Way Of Control".
Beth Ditto é "gigante" e "hiper-cool"! Apesar de ser já uma personagem mediática, tal nao significa que a qualidade da música feita pelo trio norte-americano seja descipiente, antes pelo contrário.
Já com três álbuns debaixo do braço, o último "Standing In The Way Of Control" é sem dúvida aquele que reserva mais expectativas, nomeadamente o single que serve de nome ao disco.
Com uma atitude conscientemente "riot-punk" e um punhado de cançoes excelentes, com um "groove" cativante e completamente viciante, os The Gossip foram um dos vencedores da noite.
Após um início arrebatador com uma "cover"/intro de "Music" de Madonna, é quando se pressentem os primeiros acordes de "Standing In The Way Of Control" que o público entra num motim pacífico. Brilhante final de concerto!
Beth Ditto é já um ícone incontornável (apesar dos seus 22 anos nao o fazer parecer) para muita gente. Onde poderá chegar esta figura?

- Electrelane
Quarteto feminino britânico praticante de pop electrónica com traços variados de algum krautrock de boa casta (Neu!).
Coincidiram com o final dos concertos de The Jesus And Mary Chain e The Gossip, o que em muito contribuiu para que a tenda gigante onde actuavam tivesse o dobro do público que podia albergar.
Entre as Elastica de Justine Frischmann (na atitude), as Chicks On Speed (no "background" feminista e activista) e os Stereolab e, por vezes, as Au Revoir Simone (no tom algo cândido de algumas cançoes, sobretudo as do último "No Shouts No Calls"), as Electrelane sao um dos projectos actuais com mais interesse e que merecem bem a pena uma audiçao cuidada.
Para os que passarem pelo festival de Paredes de Coura na ediçao deste ano, podem ter nova oportunidade de comprovar o talento destas meninas de Brighton e do seu enérgico post-rock.

- Air
A dupla francesa J. B. Dunckel e Nicolas Godin sempre em boa forma (tal como nos habituou desde o seu início, já lá vai mais de uma década).
As melhores cançoes pop (com ambientes por vezes sónicos como "Kelly Watch The Stars", por vezes completamente oníricos como "Le Soleil Est Près De Moi") feitas em França nos últimos anos têm a sua assinatura. A sua electrónica planante é tao delicada, etérea e preciosista que muita gente vê em discos como "Moon Safari" (1998), "Talkie Walkie" (2004) e, sobretudo, na banda-sonora de "The Virgin Suicides" (2000), um passaporte sonoro para abandonar este planeta e começar a voar numa nuvem de algodao perfumado rumo ao infinito.
Ao vivo sao sempre mais que recomendáveis!

- OMD
Mais um grupo mí(s)tico da cena "revival" da elelectro-pop neo-romântica inglesa dos anos 80.
O grupo de Paul Humphreys e Andy McCluskey apresentou um concerto com os clássicos de sempre: da abertura em grande com "Enola Gay", até ao final com o primeiro single lançado pela banda, "Electricity" (editado pela Factory de Tony Wilson), passando por uma das melhores cançoes em formato pop electrónico de sempre "Souvenir" (cuja partilha com o público foi um dos momentos mais altos), deram o mote para um concerto que a banda de Liverpool prometeu repetir em breve em Barcelona.

- Ratatat
Trio de loucos em palco! Na realidade, a base do grupo é o dúo Mike Stroud e Evan Mast, mas é de uma loucura saudável que se trata aqui.
Mike Stroud na guitarra eléctrica, Evan Mast nos sintetizadores e um terceiro elemento no baixo em autêntica (des)harmonia caótica, cujo resultado é completamente surreal. Pop electrónica psicadélica/experimental com laivos de algum "noise" melódico poderá ser uma descriçao aproximada. Fazem lembrar uns Liars (mas menos agressivos) e uns Modest Mouse (em fases rítmicas com melodias fantásticas).
Músicos exímios numa "orgia" sonora algo desordenada, mas que parece sempre ter um fio condutor que cativa cada um dos presentes.
É preciso vê-los e ouvi-los para perceber melhor do que aqui se fala. De Nova Iorque para o mundo: Ratatat!

- Kaiser Chiefs
Início de actuaçao avassalador com o single do primeiro álbum ("Employment" de 2005) "Everyday I Love You Less And Less", a mostrar toda a revolta a ritmo de punk amoroso.
Os Kaiser Chiefs sao já uma banda para multidoes (o que significa que já podem encher estádios); têm cançoes que lhes permitem manter o público em constante delírio e dança.
Com dois álbuns lançados apenas (o último "Yours Truly, Angry Mob" deste ano, menos hooliganesco e bastante mais centrado nas bases melódicas), os Chiefs sao dos melhores intérpretes da cançao pop-rock na versao moderna. Agradeçam-lhes!
"Ruby", "I Predict A Riot" e "Everything Is Average Nowadays" sao verdadeiros hinos que foram cantados e aplaudidos até à exaustao.
Um grande concerto a fechar o palco principal na segunda noite do SUMMERCASE.

- !!!
Tenho para mim (como teoria algo empírica) que todas as bandas que têm duas baterias em palco sao excelentes (exs: Boredoms, Beta Band... e estes !!!).
Poucas bandas formadas neste milénio gozam de uma reputaçao nos seus espectáculos ao vivo como estes nova-iorquinos. Um concerto dos !!! é sinónimo de suor e dança a todo(s) o(s) ritmo(s). Como se de uma sauna transformada em discoteca se tratasse.
O vocalista Nic Offer, trajando os seus calçoes de praia quase ridículos, com os seus trejeitos algo estranhos, move-se convulsivamente. E esses movimentos sao propagados rapidamente a todo o público que vibra efusivamente a cada música deste grupo "enorme" (também pelo número de componentes em cima do palco). O som é funk, é punk, é rock (tudo isto em separado ou ao mesmo tempo); todo ele cheio de muito "groove".
"Myth Takes" veio provar que a prova do difícil segundo álbum só o é para alguns; para os !!!, a alegria e a qualidade contidas no primeiro "Louden Up Now" é aqui mantida, elevando em alguns casos a fasquia do experimentalismo sonoro mais além.
Mais um concerto memorável da melhor banda onomatopaica da história da música!

- The Chemical Brothers
E eis que chegamos ao ponto mais alto de todo o SUMMERCASE 07!
Concerto do outro mundo! Nao é preguiça, é mesmo falta de espaço... (foi a minha única nota escrita no bloco que servia para os apontamentos de cada banda). Mas podia ficar por aqui, porque foi na realidade isso que se passou.
Passada uma semana após a sua actuaçao portentosa, ainda estou a sentir alguns dos efeitos provocados por tamanho acontecimento (e creio que nao passarao tao depressa - venha o próximo concerto desta dupla "química" de Manchester).
Quem esteve lá sabe do que falo. Quem nao esteve, resta-lhes imaginar (ou mais prosaicamente, ir aos sítios do costume na rede global e ter pena de nao ter estado presente).
Os The Chemical Brothers sao a banda perfeita e que melhor exemplifica o próprio conceito de ócio festivaleiro: um reportório ideal para dançar e saltar (seja um adepto do rock ou da electrónica), um dispositivo visual que se pode desfrutar a mais de 200 metros de distância do palco e um poder de atracçao verdadeiramente fora do comum. Tudo isto permite-lhes demonstrar cabalmente ao vivo aquilo que possa ser (algo) discutível em disco. A provar isto, está o último "We Are The Night", a mais recente "poçao mágica" criada por Tom Rowlands e Ed Simmons, que soa ainda melhor ao vivo do que em disco. Com ritmos secos e bem marcados, atravessado por melodias expansivas, "We Are The Night" é um disco que contém frases (breves e muito repetidas) em busca de crescendos nada previsíveis e muito excitantes. Existe como que uma sequenciaçao cinética que confere a todas as cançoes uma envolvente sensaçao de movimento. Para além disso, as colaboraçoes dos Klaxons (em "All Rights Reversed"), Midlake (em "The Pills Won't Help You Now") e do cantautor Willy Mason (em "Battle Scars"), entre outros, sao sinónimos de garantias vocais mais que asseguradas.
E, como os LCD Soundsystem nao tinham tocado a tal melhor cançao deste ano, os Chemical fizeram o enorme favor de nos fazerem "viajar" com esse portento sonoro chamado "Surface To Air".
Se nao existissem os The Chemical Brothers, os programadores de festivais teriam que inventá-los!
Memorável! Para a história (ainda imberbe) do SUMMERCASE!


Nota de fim de post: para além de tudo aquilo que é normal ver nos festivais (cada um saberá do que se trata), este foi o festival onde montes, milhares de "All-Star" (a marca mais vestida/calçada no festival) se concentravam por cada metro quadrado existente. As já clássicas t-shirts de bandas de eleiçao de cada um também abundavam (talvez a tentarem fazer passar a mensagem para um futuro ou alternativo cartaz festivaleiro): dos hiper-utilizados The Clash, Sex Pistols, Ramones e Nirvana, passando por Kraftwerk, Devo, Björk, até Black Flag, AC-DC, Tenacious D e Sigur Rós. Tudo nomes muito respeitáveis, mas nem todos eles muito disponíveis para estas andanças de festivais...

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